“Nascido em Maio de 1914 é mestre de todos os heterônimos”, Alberto Caeiro é o poeta que foge para o campo, tentando viver na mais absoluta depuração, como as flores, os regatos, os prados, etc., os quais obviamente são incapazes de refletir e questionar o mundo. Portanto, são felizes na sua própria inconsciência. Caeiro admira a Natureza e busca atingir a mesma impassibilidade dos elementos naturais. Para este heterônimo o mundo não encerra mistérios: Deus, metafísica.
____________________________________________________________________
"Ao Entardecer"
Debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos O livro de Cesário Verde.
Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos
pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos ...
Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros E pôr plantas em jarros...
________________________________________________________________
"Ah!Querem uma luz melhor"
AH! Querem uma luz melhor que a do Sol!
"Ah!Querem uma luz melhor"
AH! Querem uma luz melhor que a do Sol!
Querem prados mais verdes do que estes!
Querem flores mais belas do que estas que vejo!
A mim este Sol, estes prados, estas flores
contentam-me. Mas, se acaso me descontentam,
O que quero é um sol mais sol que o Sol, O que
quero é prados mais prados que estes prados,
O que quero é flores mais estas flores que estas
flores - Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira!
Sem comentários:
Enviar um comentário