segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Análise





Tão abstracta é a ideia do teu ser que me vem de te olhar,
que, ao entreter os meus olhos nos teus, perco-os de vista,

E nada fica em meu olhar, e dista teu corpo do meu ver tão longemente,

a ideia do teu ser fica tão rente ao meu pensar olhar-te,


e ao saber-me sabendo que tu és, que, só por ter-me consciente de ti,

nem a mim sinto.E assim, neste ignorar-me a ver-te,

minto a ilusão da sensação, e sonho, não te vendo, nem vendo,

nem sabendo que te vejo, ou sequer que sou,

risonho do interior crepúsculo tristonho em que sinto que sonho o que me sinto sendo.

De Fernando Pessoa, 12-1911.

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